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Coluna Meia Linha

Meia Linha

Por Marco Antônio Furtado.

“CHI, CHI, CHI………..LÊ, LÊ, LÊ”
                                                                                                                     
Reiniciam-se  as eliminatórias Sul Americanas de futebol para a copa do mundo na África do Sul.  O  Brasil  retorna  a  competição em 5º lugar, posição desconfortável para um pentacampeão e com o desgaste, para os critérios  de  expectativa brasileiros, de não ter conseguido a medalha de ouro das Olimpíadas, perdendo logo para a Argentina o que deixa qualquer treinador na “dependura”. 

O  retorno é contra o Chile, pais que exerce em mim um fascínio especial, não apenas pelas suas belezas naturais com seus lagos, sua cordilheira e seus incríveis “Concha e Toros”, mas também pelo futebol. Mas comé? Pelo futebol? Como se ter boas lembranças do Chile pelo futebol?  Alguém grita de lá. Um pais com participações pífias seja em copas do mundo,  torneios  continentais e mesmo interclubes. Com poucos jogadores de grande destaque mundial ao longo de sua história futebolística.

Pois  é.  É esse Chile que eu gosto de ver, com tudo que tem para não se ver. Talvez porque tenha sido lá a primeira copa  em que vi imagens de jogos e quando, já taludinho, tinha um pouco de conhecimento técnico e tático do esporte. As  imagens víamos muito depois nos cinemas, naquele tempo não havia ainda TV por aqui, numa espécie de “jornal” que passava  antes  do filme. E a paixão foi de amor à primeira vista. As imagens maravilhosas. A copa foi disputada num clima frio, mas de bom tempo. A elegância dos uniformes, todos de mangas compridas, limpos, sem essa parafernália de hoje, que mais parecem macacão de piloto de fórmula 1 (desculpe Robério). A luminosidade maravilhosa, tardes lindas, sem  nuvens,  o estádio Nacional com sua arquitetura simples, redondo, com arquibancadas de alto a baixo, igualzinho aos desenhos que fazíamos com papel e lápis quando crianças, e as redes mais lindas que já vi, branquíssimas, caindo elegantemente como uma cascata por trás das traves, que na imaginação de menino lembrava um belíssimo véu de noiva.

Foi  com  o  coração  no  Chile que derramei as primeiras lágrimas pela seleção. No intervalo de Brasil e Espanha, o Adelardo  meter  uma no Gilmar e a classificação do Brasil no grupo, estava a perigo, o bi indo para as cucuias. Não entendia,  naqueles  15  minutos  de  intervalo,  o  sorriso  de  descaso dos  colegas  que comigo ouviam o jogo no “Transglober” lá de casa e desabei num copioso choro, misto de revolta e perda prematura.

Amarildo, “o possesso”, lavou minha alma com dois golaços no segundo tempo. Copa  de  belos  jogos, alguns  violentos,  dos brasileiros Mazola e Sormani jogando pela Itália, de Brasil sem Pelé,
contundido, com o time jogando com 10, logo contra a Inglaterra, pois, então, não eram permitidas substituições, com Garrincha expulso e ameaçado não participar da final contra a Tchecolosváquia.                                       
Brasil  e Chile fizeram, em minha opinião, o melhor e mais emocionante jogo da competição. Jogo com muitos gols, 4×2 pra nós, pênalti, expulsão do craque da copa, Mane Garrincha, e o maior público da competição, 77.000 pessoas.

                                                     
Chile  que  nos  anos  de chumbo misturou  política  com  futebol,  enodoando a bela imagem que tinha do estádio Nacional, ao transformá-lo em prisão para milhares de presos políticos, candidatos a futuros “missings”.                                                   
                                                                                                                     
Chile  que  deu  ao  futebol  um  dos  maiores zagueiros da história, Elias Figueroa, eterno ídolo do Inter. Que deu Marcelo  Salas,  Babam  Zamorano, Caszely, Leonel Sanches, Toro. Que proporcionou alguns jogos folclóricos como o em que o goleiro Rojas simulou ter sido atingido por um rojão, o que lhe rendeu a expulsão do futebol.

Lembro  de  outro  em  que  o  Romário  foi expulso no inicio do jogo por revidar com uma dentada a provocação de um chileno,  jogo  este  em  que  o Chile empatou com um gol que lembrou racha de praia, numa cobrança de tiro indireto dentro  da área, com o chileno seguidamente colocando e recolhendo a bola do chão e só resolvendo bater no momento e local  que  achou melhor. O jogo já estava perto do final,  o Chile empatava, estádio lotado e aquela multidão, uma só massa  rubra  unida  e  berrando  o  ensurdecedor  e  estridente  grito  de  guerra  deles…Chi,chi,chi, lê,lê ,lê,
chi,chi,chi,lê,lê,lê……

O juiz ia anular?

Tive foi pena dele.                                                     
                                                                                                                     
Até a próxima.