Por Robério Lessa – No dia em que completa 30 anos da morte do maior ídolo do Automobilismo Brasileiro é bom lembrar que Ayrton Senna não só deixou uma legião incontável de fãs, mas também foi responsável por despertar o instinto de competição que existe dentro daqueles que desafiam o tempo a cada volta dada em uma pista pelo mundo.
Senna se tornou sinônimo de determinação e inspirou a carreira de Lewis Hamilton, por exemplo, que até mesmo na pintura de seu capacete procurou fazer referência ao brasileiro.
Ouvimos, ao longo de nossa carreira cobrindo o automobilismo em 33 anos, vários depoimentos de pilotos que conheceram o Ayrton pessoalmente, chegaram a correr com ele de kart e outros que o viram correr e ainda aqueles que só conhecem a história.
É impressionante o quanto muito desses depoimento convergem.
O baiano Tony Kanaan, por exemplo, teve a oportunidade de correr com ele na pista que o Ayrton tinha em sua fazenda. Ao final da prova, Senna chegou para Tony, que tinha 12 anos de idade e havia vencido a corrida, chegando à frente do Senna e falou: “você tem talento”. Kanaan sempre se emociona ao contar essa história. Em novembro de 2023, Tony pilotou, na Califórnia, a McLaren Mp4/6 que foi de seu ídolo.
Eu escolhi alguns deles de nossos arquivos e trago aqui nesse momento em que faz 30 anos da sua morte.
Helio Castroneves – Oi Galera ligada aqui no site Carros e Corridas, que o Robério Lessa faz com tanta competência aí no Ceará. Há 20 anos o automobilismo perdia um tricampeão mundial de Fórmula 1 de maneira muito trágica, mas para a geração de pilotos da qual eu faço parte, o falecimento do Ayrton Senna representou algo muito maior do que a inexorável certeza de que, um dia, todos nós daqui partiremos. Ayrton não era somente um grande, fenomenal piloto. Ele meio que carregava nas costas a responsabilidade de ser o grande exemplo para jovens no mundo todo que se inspiravam nele em busca do sonho de sucesso no automobilismo.
O Brasil, na verdade, foi agraciado com gigantes do automobilismo que nasceram muito próximos uns dos outros. Que outro país no cenário da Fórmula 1 conseguiu quase que na seqüência ter três campeões mundiais? Os anos 70 foram marcados pelos títulos de Emerson Fittipaldi e logo em seguida foi a vez do Nelson Piquet. Claro que todos nós tínhamos também esses dois grandes campeões como referências, mas o fato de o Ayrton ser o mais novo deles acabou coincidindo com a minha geração.
Quando eu nasci, em 1975, o Emerson já era bicampeão mundial. Em 1987, quando ganhei meu primeiro kart e comecei a treinar, o Nelson estava conquistando o seu terceiro título mundial. Mas eu já estava competindo para valer quando o Ayrton foi campeão em 1988. No ano do bi – 1990 – eu já era piloto graduado de kart e no seguinte, quando ele faturou o tricampeonato, estava me despedindo do kart para começar no ano seguinte minha carreira nos monopostos.
Nunca vou esquecer o dia em que fui correr na fazenda do Ayrton em Tatuí, interior de São Paulo. Isso foi em 1990. Ele havia construído uma pista de kart e convidou alguns pilotos do tempo dele e a molecada que corria naquela época, Foi demais e, confesso a vocês, foi algo que me marcou profundamente. Imaginem vocês como foi aquilo para um garoto com seus 15 anos, ter a oportunidade de se encontrar com o ídolo e disputar uma corrida com ele? Gente, isso vai ficar no meu coração para sempre.
Quando o Ayrton morreu, eu já era piloto de Fórmula 3 e foi um choque. Algumas pessoas chegaram a sugerir que eu não continuasse com a minha carreira, que procurasse algo sem os perigos do automobilismo. Mas como os exemplos do Ayrton sempre calaram muito fortes no meu coração e na minha mente, também foram valiosos para seguir em frente. Ele marcou sua carreira pela dedicação, coragem de enfrentar todos os obstáculos e força de vontade para seguir em frente.
Deus quis que o Ayrton fosse para junto Dele mais cedo. São essas coisas que a gente não entende, mas como disse no meu livro, Deus tem sempre um plano. E o que ficou para mim foi um modelo de profissional, de piloto, de ser humano. Então, posso dizer que o Ayrton está no coração de cada piloto das diversas gerações que o tiveram e o têm como referência. E essa referência é tão forte que é como se ele estivesse vivo. Pode não estar vivo na forma que nós conhecemos, mas sem dúvida está vivo na Eternidade.
Marcus Borges Kinho – Quando o Senna morreu, eu nem era nascido. Tenho 28 anos e desde criança ouvia muita história que meu pai contava dele. Busquei ver vídeos, ler sobre sua carreira, pois sempre gostei de corridas. Uma das razões de eu usar o número 77 em meu kart é por ter visto uma das primeiras fotos dele em uma biografia o Senna andando em um kart com o número 77 e macacão preto. Ele era o melhor de sua época e para nós brasileiros vai continuar sendo. Em um esporte tão competitivo como é o automobilismo ele ainda ter números que não foram batidos depois de 20 anos de sua morte mostra o quanto ele era genial”.
Sérgio Jimenez – “Eu era muito pequeno na época que o Ayrton corria. Quando ele faleceu eu tinha 10 anos. O que eu mais lembro era acordar pela manhã com meu pai para assistir as corridas, pois meu pai sempre foi fã de corridas. Eu não tenho muita lembrança de nenhuma prova que assisti, pois era pequeno, mas quando ele vencia aquilo me marcava, pois meu pai ficava contente, a família ficava feliz! Ele representa para mim a persistência, dedicação e vontade de vencer”.
Adalberto Jardim – “A primeira grande lembrança, infelizmente foi o dia fatídico, porque estava em uma corrida em Brasília e todos nós estávamos com muita expectativa, já que ele tinha um carro inferior ao do Schumacher e iria dar show e daí aconteceu a tragédia. Ficamos todos abalados, e na segunda feira quando cheguei em casa os professores dos meus filhos pediram para ir ate o colégio, pois estavam chorando pensando que poderia acontecer com o pai deles, tamanha foi a repercussão do Senna o herói deles e dos brasileiros, ter morrido daquela forma. A corrida que considero mais marcante foi a de São Paulo quando ganhou a corrida com a maioria das marchas quebradas, foi gênio. O Senna é o que pode ser tido como um perfeccionista, um idealista do automobilismo, sempre atrás do objetivo principal que eram vitórias, não se deixou abater com os dirigentes e sempre perseverante e como pessoa um benfeitor para as crianças trazendo educação que o governo não dá”.
Pedro Virgínio – “Embora fosse muito pequeno, eu sempre estava ao lado do meu pai assistindo as corridas. Temos muita coisa gravada, e quando fui crescendo fiquei interessado em ver aquelas corridas. Assisti todas as fitas e a que mais me impressionou foi na vitória dele em 1991, em Interlagos. A galera invadindo a pista, comemorando com ele e, mesmo exausto, levantar a bandeira junto com o tema da vitória. Aquilo foi mágico. Mas a corrida dele que não me sai da cabeça, a que mais me marcou foi a de sua morte, há exatos 30 anos, eu lembro de tudo, vi ao vivo. Para mim, o Ayrton Senna é um exemplo de determinação e foco para alcançar o objetivo que queria”.
Texto: Robério Lessa.
Fotos: Lotus F1/McLAren F1 – Sutton Images/Grace Hollars/IndyStar/José Mário Dias.
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