Acompanhe mais uma coluna Velocidade Cearense, redigida pelo jornalista Robério Lessa. Em análise a polêmica gerada na primeira etapa do Campeonato Cearense de Automobilismo.
Olá Amigos que acompanham o site Carros e Corridas.
A etapa inaugural do automobilismo cearense serviu para confirmar o interesse do público pelas disputas na pista do autódromo Virgílio Távora. Sem atividade oficial (fora racha noturno e track day) desde novembro de 2010, no domingo (23) as pessoas começaram a chegar ao autódromo no início da manhã, e antes mesmo das motos e dos carros de Marcas, CTM, Spirit e Superturismo ganharem a pista, o número de carros no estacionamento dava mostras do quanto os cearenses são apaixonados por corridas. Alguns armaram barraca com direito a churrasqueira para matar a fome enquanto acompanhavam as corridas ao melhor estilo acampamento, comum nos autódromos do sul do país.
Na pista a maior novidade do dia a união em uma prova só envolvendo carros e pilotos da CTM, Spirit e Superturismo, acabou também sendo a maior fonte de polêmica. Em todo o mundo categorias como a internacional Le Mans Series e a Força Livre, de São Paulo, provam que é possível a competição de carros pertencentes a categorias distintas na mesma prova. Mas, ao melhor estilo “no Ceará não tem disso não”, alguns pilotos não entenderam a necessidade de somar as três categorias para começar o campeonato de 2011.
Nas duas etapas um número elevado de choques e encontrões mostrou que ainda falta maior entendimento na pista para quem disputa uma prova dessa natureza. Sei que no briefing, a direção da prova foi à exaustão explicando a necessidade de haver entendimento entre os pilotos de categorias diferentes. Foi lembrado que os CTM e os Spirit não têm o mesmo comportamento nas curvas do que os Superturismo pelo simples fato de os dois primeiros terem tração traseira e o último, dianteira. Mas na hora da prova ficou visível que a orientação fora esquecida.
Essa introdução necessária serve para situar o amigo leitor em relação ao caso mais polêmico daquele dia: Na segunda etapa da categoria protótipo os pilotos Minho Pimentel (categoria Spirit) e Pedrinho Virgínio (categoria Superturismo), a quatro voltas para o final da prova, chegaram ao final da reta principal lado a lado quando a carenagem do carro de Minho Pimentel (carro laranja) se desprende ao passar pelo Superturismo (carro amarelo e azul) de Pedrinho Virgínio.
Os dois apresentaram versões diferentes para o que aconteceu. Pedrinho, que vencera na pista em sua categoria, foi punido com 20 segundo a mais de seu tempo pela direção da prova, após análise dos comissários que julgaram o piloto culpado pelo dano ao carro de Minho, também vencedor em sua categoria.
Não me esquivo da análise e sei de meu papel como colunista, tampouco escrevo procurando agradar ou desagradar quaisquer personagens desta história. Agradar ou não acaba sendo uma consequência de meu trabalho.
Assim sendo, paciência!
Após analisar os vídeos (que estão disponíveis no canal de vídeo do site Carros e Corridas no Youtube, acessado através do link: http://www.youtube.com/carroscorridas), posso chegar a uma conclusão respaldada nas imagens e nas evidências. Não me sentirei desconfortável se for convencido do contrário caso haja prova inconteste de que estou errado em meu pensamento.
Antes de concluir esta coluna que você lê agora conversei com os dois pilotos em questão, cujas versões foram publicadas no canal de áudio do site (que pode ser acessado através do link: http://soundcloud.com/carrosecorridas), conversei com comissários daquela prova, integrantes da Federação Cearense de Automobilismo, além de vários pilotos, e preparadores. Saliento ainda o enorme número de e-mails que recebi dos leitores após assistirem aos vídeos e ouvirem as versões dos envolvidos.
Vamos então ao que interessa.
A Pressa 1: Há muito tempo observo certa pressa dos comissários, e diretores de prova de todo o país em sentenciarem punições aos pilotos que se envolvem em incidentes nas pistas, e que tais punições acabam sendo derrubadas por inconsistência após uma análise com maior acuidade. Recentemente, na Copa Montana, e no Mini Challenge, a pressa no julgamento provocou enorme prejuízos aos apenados, uma vez que tiveram de pagar drive through. Passada a prova, constatou o erro de quem julgara, mas quem pagou a punição saiu perdendo.
A Pressa 2: Concordo com o comentarista da Band, e ex-piloto, Eduardo Homem de Mello, de que falta um pouco mais de cuidado aos responsáveis por tais julgamentos. Na pista, decisões erradas e prematuras acabam pondo por terra um trabalho de toda uma equipe, e ainda expõe à crítica os que concluíram erroneamente. No caso em questão essa pressa em punir Pedrinho foi percebida.
Olho Eletrônico: Se existe a possibilidade de fazer uma análise mais robusta, com fotos e, vídeos, porque não fazê-la? O ser humano é passível de erro e a pressão do momento é mais um motivo que se soma à necessidade de fazer um julgamento com a menor margem possível de questionamentos. Sei que naquele momento os comissários envolvidos não dispunham de muita informação a não ser o seu próprio olhar para o fato, o que reforça minha tese.
Na Pista 1: Nas voltas finais da corrida Pedrinho Virgínio e Adriano Rabelo travavam duelo pela liderança da Superturismo. Os dois entram juntos na reta (veja as imagens no canal de vídeo do site no Youtube acesse: ou clique aqui) enquanto o Spirit 33 de Minho surge atrás dos dois. Adriano se defende do ataque de Pedrinho e busca posicionamento na reta, mas permite que Pedrinho coloque o carro à esquerda para entrar na Curva do Desespero colado a Adriano para o ataque final na Curva Fernando Ari. Antes da definição da disputa dos dois, Minho Coloca seu Spirit mais à esquerda ainda da pista, próximo ao muro e, no final da reta aparece com a carenagem saltando do chassi de seu carro, dando a indicar um toque entre ele e Pedrinho.
Na Pista 2: Nesta imagem feita da torre (local onde fica a direção da prova) percebe-se que o carro de Minho inicia a reta com a carenagem íntegra e chega ao final pendurada no lado direito do carro. Se houve toque entre os carros por que não há marcas no carro de Pedrinho que indiquem esse toque? Vendo as imagens das câmeras “on board” do carro de Pedrinho percebe que o carro sequer balança com um possível choque. Veja os vídeos clicando aqui para a imagem da câmera traseira e aqui para a imagem da câmera dianteira.
Na Pista 3: A física prova que dois corpos não ocupam o mesmo lugar no espaço e que há sempre uma reação para uma ação. Ou seja, se houve o choque o carro de Pedrinho seria “empurrado” de lado, e isso não ocorre. Além desses detalhes há de se levar em conta que Minho vem de dois outros choques nas duas baterias. Não estou aqui satanizando o piloto Minho Pimentel, pessoa a qual tenho bom relacionamento, não obstante, existe a possibilidade de a carenagem ter se soltado dada a vibração a qual o carro se submeteu ao calçar os pneus na zebra esquerda da reta e ao elevado deslocamento do vento provocado pelo traçado colado ao muro e, por conta dos outros choques a fixação tenha ficado comprometida, o que contribuiria para que se soltasse.
Visão de Piloto 1: Concordo com o piloto de Kart Lutiane Soares de que a direção da prova tinha apenas aquelas imagens de cima da torre para julgar e elas não mostram se houve ou não o choque, mas incriminam Pedrinho na falta de outro ponto de vista. É preciso ter convicção para este tipo de julgamento. No momento que decidiram pela punição, além dos relatos dos comissários, havia a imagem da câmera de um aparelho celular (que não fora usada para basear a decisão), o que não permite uma análise mais apurada.
Visão de Piloto 2: Minho e Pedrinho são pilotos com a consciência de suas atitudes dentro da pista. Os dois têm suas parcelas de culpa no episódio, mas estavam lutando por uma posição na pista, mesmo que em categorias diferentes. Minho seguiu a orientação de usar a reta como ponto para superar pilotos de outras categorias, enquanto Pedrinho acreditou que Minho não entraria na disputa dele com Adriano.
O que houve 1: Como já afirmara acima, penso que o toque não houve. E para reforçar ainda mais minha tese, mostro esta foto que indica uma abertura demasiada na carenagem do carro laranja. Antes de a carenagem ir para o espaço, é possível ver que a porta do lado direito do Spirit aparece danificada, o que permite um fluxo de ar irregular sobre a carenagem, somando-se aos outros fatores que possibilitaram seu rompimento.
O que houve 2: É visível que Pedrinho coloca seu carro para a esquerda quando tenta a passagem por Adriano, que se defende do ataque e, também coloca o carro à esquerda, motivando correção do adversário. A consequência disso é que Minho acaba ficando com menos espaço na pista. Não creio que a atitude tenha sido “antidesportiva”, mas que é a sua parcela de “culpa” no episódio, embora não pense que seja ela passível de punição.
Tudo Junto: Tal como a face que simboliza a arte do Teatro, há um lado triste para cada lado feliz, o “Ing e o Iang”. Se nesse primeiro momento a união das categorias serviu para unir os atores do automobilismo cearense, vozes já se insurgem pregando o apartamento das categorias. Nem mesmo houve tempo para pilotos, fiscais, comissários, dirigentes, mecânicos, jornalistas, e o público de se aclimatarem com a novidade, pregar o rompimento desse formato para a próxima etapa é demasiado prematuro.
Os Spirit e CTM podem até ficar em uma só categoria, mas a realidade atual, com os custos que se tem para por um carro na pista em um ano que poderia ter ficado sem competição, sugere que seja mantida a união com a Superturismo.
Pra concluir: A queda é o maior incentivador da subida, bem como o acerto depende do erro. Se Pedrinho achou errada a decisão pela sua punição, não deveria ter se ausentado do pódio que conquistara, mesmo com 20 segundo a mais, o esporte não pode ser deixado de lado em meio ao aborrecimento.
Decisões de cabeça quente não são as melhores, tampouco as mais acertadas. Se tinha a certeza de que não fizera nada de errado, deveria ter comparecido ao pódio com toda a cara amarrada a que teria direito, e deixado o troféu em cima dele. Quem vibrou com a sua manobra pela vitória na pista não entendeu seu protesto.
Até outra.
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Texto e Fotos – Robério Lessa