O Carros e Corridas apresenta agora uma entrevista exclusiva com o piloto paraibano Valdeno Brito. Após trocar as competições náuticas, onde conquistou cinco títulos brasileiros, ingressou no automobilismo.
Na Stock Car desde 2004, o “Paraibano Voador” foi o primeiro piloto a vencer a Corrida do Milhão, e hoje acumula cinco vitórias na categoria.
Acompanhe agora a entrevista com Valdeno Brito, que hoje tem 38 anos e é o sexto colocado na classificação-geral da competição.
Carros e Corridas - Como você se sente sendo apontado como um dos principais representantes do Nordeste no automobilismo brasileiro?
Valdeno Brito – Sinto muito orgulho. Vim da Paraíba e tive várias conquistas na minha vida profissional. Ainda há muitas a conseguir, mas sem dúvidas tenho muito orgulho de representar meu estado, a Paraíba, e o Nordeste em geral.
CeC – Do mar para as pistas da Stock Car. Você poderia falar sobre essa troca das competições no iatismo (Hobbie Cat) para as pistas.
VB – Foi uma transição natural e tive muito sucesso com os Hobbie Cats, conquistando títulos também, e isso me ajudou a formar como um esportista, algo que uso até hoje na Stock Car. Consegui me adaptar bem no automobilismo e ainda hoje gosto de velejar nas minhas horas vagas.
CeC – Quando decidiu ir para o automobilismo você enfrentou alguma oposição dentro de casa?
VB – Não, todos me apoiaram assim como apoiaram minha ida para o iatismo.
CeC – Falando das influências do piloto Valdeno Brito. Quem é sua maior referência no automobilismo?
VB – São as mesmas da maioria dos pilotos brasileiros, principalmente os campeões mundiais de F-1, como Emerson Fittipaldi, Nelson Piquet e Ayrton Senna. Sem dúvidas foram uma fonte de inspiração para mim e qualquer um em busca de uma carreira profissional no automobilismo.
CeC - Você concorda que essa falta de apoio reflete no menor número de pilotos da região?
VB – Sim, certamente o Nordeste poderia e deveria ter mais pilotos de ponta nas principais categorias do automobilismo brasileiro. Obviamente, fica mais complicado para um piloto que não é do Sul ou Sudeste se sobressair até por conta das diferenças econômicas em relação a estas regiões. Acredito que um maior apoio à base no automobilismo ajudaria muito, não só no Nordeste, mas no Brasil em geral.
CeC – Ainda sobre essa questão, alguns pilotos reclamam da falta de oportunidades de realizar testes e até mesmo preconceito. Você foi vítima disso na quando começou na Copa Corsa, em São Paulo?
VB - Nunca, sempre fui bem recebido e consegui me impor na pista. Fora delas, o resultado falava por si só. As dificuldades foram por estar chegando numa categoria nova, por ser de uma categoria nova.
CeC – É verdade que você chegou a teve que parar de correr na metade da temporada de 1998, por falta de patrocínio? Como isso mexeu com você?
VB – Sim, é verdade, na F-3 Sul Americana em 1998. Fiquei muito triste, queria seguir carreira, até que consegui voltar em 2004. Mostrou que valeu a pena meu esforço.
CeC – A Stock Car realiza corrida na Bahia em uma prova de rua, enquanto que os autódromos do Eusébio (CE) e Caruaru (PE) não recebem provas desta categoria, apesar da Fórmula Truck correr em Caruaru e ter corrido no Eusébio até 2010. Você ache que esses dois autódromos carecem de maior estrutura?
VB – Obviamente adoraria correr de Stock Car em Pernambuco, Ceará e, claro, Paraíba. O povo do Nordeste ama automobilismo e sente falta quando ele não vem. Prova disso é a corrida de rua em Salvador que a Stock faz e a que a Truck promove em Caruaru. O sucesso de público é garantido em ambas. Se fizermos a corrida, o público vem. Só que o carro da Stock precisa de um certo nível de estrutura de autódromo para correr, e por isso que reformas seriam muito bem vindas nestas duas pistas.
CeC – Em 2004 você entrou para a Stock Car, e, em sua terceira participação largou na primeira fila, mas um toque com Chico Serra tirou seu pódio. Qual foi o tamanho daquela frustração? Você guarda que lembranças dessa primeira temporada?
VB - Foi frustrante, mas ao mesmo tempo foi uma corrida que me fez conseguir a vaga até o final da temporada. Tinha dinheiro até a quarta corrida e, a partir da quinta, outro time (hoje a RZ) me chamou para completar a temporada e consegui me estabelecer na Stock Car.
CeC – O que representou para você ser o primeiro vencedor da Corrida do Milhão?
VB - Foi um grande momento em minha vida, especialmente em minha carreira como piloto. Além de ganhar notoriedade e mais respeito de todos na categoria, esse dinheiro, apesar de não ter ido só para mim, pois é dividido também com todos da equipe, me ajudou a construir minha casa em Londrina, onde morava naquela época antes de me mudar para Brasília.
CeC - Hoje a Stock Car vive um momento peculiar. O nível elevado dos pilotos é comparável a grandes categorias do automobilismo mundial. Esse patamar de excelência é uma pressão a mais para os pilotos?
VB – Quanto maior o nível dos pilotos, mais a categoria é valorizada e mais o nosso nível também sobe. Só tenho visto isso com bons olhos. É sempre bom para nós mesmos evoluirmos e buscarmos sempre mais. Se é uma pressão… talvez o nome não seja isso, mas é algo parecido.
CeC - Em categorias de turismo são comuns alguns toques entre os carros nas disputas por posições, no entanto, muitos pilotos têm se queixado do excesso de batidas para se conseguir uma posição. Um desses pilotos é Rubens Barrichello, que ainda busca adaptação maior na categoria, já que sua escola é a dos carros fórmula. Qual a sua opinião sobre o assunto? Está havendo muito toque entre os carros?
VB – Toques sempre acontecem e sempre irão acontecer. Na Nascar, por exemplo, existem muitos. O que não pode ter são toques desleais claramente para atrapalhar o outro piloto, ainda mais quando se expõe o mesmo a uma situação de risco. Agora, se são muitos, ou não, depende muito do tipo de corrida que a prova está se desenrolando.
CeC – Durante a etapa de São Paulo da Fórmula Indy, você se encontrou com Will Power e teve uma longa conversa nos boxes da Penske. Para você, o Will Power pode ser considerado um dos maiores pilotos do mundo? E quem são para você os cinco maiores pilotos que você já viu?
VB – Will Power tem uma capacidade de incrível de pilotar no limite em circuitos de rua. É talvez sua grande vantagem. Se automobilismo fosse limitado a corridas em cidades, certamente ele seria um dos destaques, mas o leque é muito maior do que somente isso, fica complicado fazer comparações. Os maiores que já vi guiar, fora de ordem de grandeza, foram: Senna, Prost, Piquet, Alonso e Schumacher.
CeC – Você vai dividir, novamente, os boxes com Helio Castroneves, que vai participar da etapa da Stock Car em Ribeirão Preto. Há uma troca de experiência entre vocês dois? Como é dividir os trabalhos de uma equipe com um piloto de tamanha experiência como o Helio Castroneves?
VB – Sim. Helinho tem uma ótima experiência, e sempre trocamos informações para ambos crescermos juntos. O trabalho com ele é tranquilo, pois sabe muito do ofício e sempre tem coisas a agregar, além de estar sempre apto a escutar.
CeC Hoje o brasileiro vê com descrédito a Fórmula Um por causa do jogo de equipe. Você acha que esse tipo de coisa atrapalha o esporte?
VB – Esse é um ponto complicado. Jogos de equipe são coisas que desde os primórdios do automobilismo, mas a partir do momento que você mexe com o sentimento dos torcedores, é algo que se deve evitar. É uma linha tênue entre o certo e o errado.
CeC - Valdeno! Você é considerado duplamente vitorioso. Além de tudo o que conquistou nas pistas você superou problemas com drogas. Que conselho você daria para os jovens que encontram esse caminho escuro e perigoso? O esporte o ajudou a superar o problema?
VB – O esporte ajudou a superar, mas principalmente minha fé em Deus foi fundamental nisso.
CeC – Em entrevista ao programa Viva Vida você fala da importância de Deus em sua vida. você pode contar um pouco sobre isso?
VB – Meu relacionamento com Deus foi que me ajudou a superar todas estas dificuldades e valorizar minha família, minha profissão e agradecer a ele que me deu tudo isso.
CeC – Você também disputa provas na categoria GT. Qual é o maior desafio em dominar carros tão diferentes quanto os da Stock Car?
VB – Não disputo mais, mas esses carros, apesar de diferentes, têm certa semelhança com um Stock Car. Tração traseira, muita potência… é sempre muito bom correr com eles.
CeC – Qual a expectativa para esta temporada? Há como recuperar terreno após esse domínio inicial da A. Mattheis com Cacá Bueno e Daniel Serra?
VB – Dá sim, sempre dá. Temos que trabalhar duro e fazer o nosso caminho direito. Há muitas corridas pela frente e tudo pode acontecer.
CeC Você acredita que falta categoria de formação no automobilismo brasileiro além do kart?
VB – Na parte de monoposto, sem dúvida. Para categorias de turismo, temos uma boa escola. Acho que falta o que tínhamos antes, uma Fórmula Três forte, e realmente sul-americana, além de categorias do porte de uma Fórmula Ford ou uma Fórmula Chevrolet. Sem isso, os pilotos brasileiros saem do kart e já tem que rumar para a Europa para correr, e com isso, os custos ficam cada vez maiores.
CeC – O que falta na carreira do piloto Valdeno Brito?
VB – Falta o título da Stock Car. Briguei algumas temporadas, mas não consegui o tão sonhado título de campeão. Mas garra e vontade não me faltarão para continuar brigando sempre. No ano passado, cheguei com chances na corrida final e espero conseguir atingir este objetivo em 2013 com a Shell Racing.
Fotos: Fernanda Freixosa/Duda Bairros/Carsten Host/Vanderlei Soares/Miguel Costa Jr./Divulgação.
Agradecimentos: Ao jornalista Rodrigo França e a toda equipe da RF1.